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Confira a matéria do Eminem em suas próprias palavras na revista da XXL (edição de 25 anos)

Eminem em suas próprias palavras – seu lugar no hip-hop, a batalha contra o vício e elogios ao J. Cole e Kendrick Lamar

Eminem comemora o 25º aniversário da XXL com uma retrospectiva de sua ilustre carreira, que a revista documentou cuidadosamente por completo. Em suas próprias palavras, Em compartilha informações sobre o que aprendeu, como se mantém motivado e por que ser um verdadeiro letrista sempre foi essencial para quem ele é como pessoa.

Palavras: Marshall Mathers

Nunca pensei que seria a influência de alguém. Quando meu primeiro álbum saiu, eu ainda estava ficando onde eu podia ficar – principalmente com a Kim e seus pais. Eu não consegui minha própria casa até o segundo álbum. Eu não tinha certeza antes disso se isso era uma coisa única, mas eu tinha pessoas batendo na porta e percebi que estava ficando louco. Essa foi uma das inspirações para escrever “Stan.” Era tipo, ‘essas pessoas estão realmente olhando para mim?’ Eu também fiquei maravilhado. Vocês estão ficando irritados comigo? Pequeno velho eu? Como diabos isso está acontecendo? Então, isso inspirou músicas como “Stan” porque ter fãs é um sonho que se tornou realidade, mas também é tão bizarro e tão surreal. Mesmo sentado aqui agora, ainda viajo na minha cabeça sobre como chegou a esse nível. Tudo o que eu realmente queria fazer era ser um MC respeitado. Para ganhar dinheiro suficiente para sobreviver, para que eu não tivesse que trabalhar em um emprego regular. Isso está ligado ao meu espírito competitivo, e eu não sei quando isso vai acabar, se é que vai acontecer. Essa é provavelmente minha maior arma misturada com lirismo.

Antes de tudo isso acontecer, antes de eu assinar com o Dr. Dre e a Interscope, eu me lembro de ter essa conversa com o Royce [5’9″]. Tínhamos alguém nessa gravadora de hip-hop que disse que queria me contratar quando eu estava trabalhando com os Bass Brothers. Fiz três ou quatro músicas, e demos para esse cara, e descobrimos que ele trabalhava na sala de correspondência e não era realmente quem dizia ser.

Eu estava no momento mais baixo. Eu nem sabia o que ia fazer porque não parecia que ia acontecer. Tenho 24 anos e tenho um bebê para cuidar e tudo o que quero fazer é rap, mas não parecia que ia dar boa. Eu estava superdepressivo. Daí, Royce e eu estamos tendo essa conversa. Nós amamos Redman. Até hoje, amo Redman. Sou fã pra caralho. E nós tivemos essa conversa e eu disse: “Cara, Royce, se conseguíssemos ganhar ouro, cara. Pense no Redman. Ele tem tanto respeito. Não tem que ser qualquer outra merda de estrelato.” Essa conversa sempre fica comigo porque quando a parada começou a acontecer, eu estava pensando, isso é algo de outro nível. E eu nunca esperei isso. Há um monte de blocos de construção e coisas que tiveram que se encaixar para que as coisas fossem do jeito que aconteceram comigo e se você tirar um desses pinos, a porra da coisa toda teria caído.

Eu lembro que estava no carro com alguns amigos e tal antes de ir para L.A., logo após o Rap Olympics em 1997. O álbum The Firm tinha acabado de sair e “Phone Tap” foi uma das melhores batidas já feitas para mim. Lembro-me de dizer: “Se eu pudesse conseguir o Dre, cara, meu Deus, isso seria doido demais. Ele é tão foda.” Três semanas depois, eu estava na casa do Dre. Fizemos o The Slim Shady LP. Esse foi um álbum divertido de fazer, mas também é onde tudo mudou de repente.

Uma dessas mudanças foi que as drogas se tornaram parte da maneira como eu estava vivendo minha vida depois que assinei o contrato. Quando eu vim a L.A. pela primeira vez, eu e alguns caras com quem eu estava saindo costumávamos ir a Tijuana e comprar drogas. Vicodin e esse tipo de merda. Eu não sei quantas vezes fizemos isso, mas foi tão fácil ir e voltar para fazer isso. A última vez que fomos, estamos em segundo na fila e esse cara na nossa frente começou a discutir com o cara da alfândega, e eles o jogaram no chão e começaram a tirar pílulas dos bolsos e essas merdas. Estávamos com medo, mas conseguimos. E quando digo que estávamos com um monte. Nossas calças estavam cheias de pílulas. Não sei quantas tínhamos.

Obviamente, se eu acabasse na cadeia, o álbum provavelmente não teria saído e nada na minha carreira de rap teria acontecido. Eu teria acabado naquele momento. Então, deveria ter sido um dos primeiros sinais para mim, mas nunca pensei que tivesse um problema. Eu realmente gostava muito de drogas. Como eu comecei a ganhar um pouco de dinheiro, eu podia comprar mais delas.

Meu vício não começou nos meus primeiros dias, quando eu estava iniciando minha carreira. Costumávamos beber 40s na varanda e batalhar um ao outro. Meu uso de drogas começou no começo daquele primeiro álbum. Eu não usei nada pesado até eu ficar famoso. Eu estava experimentando. Eu não tinha encontrado uma droga de escolha. Naquela época você ia em turnê e as pessoas estavam te dando drogas de graça. Consegui controlar por pouco tempo. E depois, tornou-se, ‘eu amo essa porra demais e não sei como parar.’

Quando as coisas começaram a acontecer para mim, eu estava recebendo muita crítica, sendo um rapper branco, e a XXL escreveu algo sobre isso. Lembro-me de ir a uma dessas bancas em New York quando a revista tinha acabado de começar, e comprei essa e algumas outras revistas de rap. Eu virei para a última página primeiro e a XXL estava me zoando. Que porra? Eu nem sei se li o artigo inteiro – eu estava acostumado a ler coisas assim sobre mim – mas doeu porque eu senti que eles não me conheciam para fazer esse tipo de julgamento. Quando eu estava começando, eu tive que lidar muito com isso. Eu queria ser respeitoso porque o que eu faço é música negra. Eu sabia que estava entrando como um convidado na casa. E a XXL, The Source, Rap Pages e Vibe eram bíblias do hip-hop na época.

Eu entendi, ao mesmo tempo, a percepção de todo mundo de um cara branco entrando no hip-hop e de repente as coisas começaram a acontecer para ele. Então, se a XXL tivesse tido uma conversa comigo, talvez eles me entenderiam mais. Obviamente, eu estava chateado. E não eram apenas revistas. Eu tinha rappers a torto e a direito me atacando. Eu estava acostumado com isso também. Vindo da cena de batalha, isso não significava nada para mim, sabe? Eu ficaria cara a cara com quem quer que seja.

Mas nós nos resolvemos. Não me lembro como ficamos bem. Não me lembro de quais conversas ocorreram ou o que as provocou. Eu xinguei a XXL no começo da minha música “Marshall Mathers”: “E aí para completar, eu fui até a banca de jornal/Para comprar essa revista barata com um vale-refeição/Pulei para a última página, folheei rápido/ E o que eu vejo? Uma foto da minha grande bunda branca/OK, deixe-me dar-lhe uma ajuda/Uh, aqui, XXL, XXL/Agora sua revista não deverá ter tanto problema para vender/Ah, foda-se, eu mesmo vou comprar algumas.” Mas depois, durante a treta entre mim e Ray Benzino, eu disse algo como: “Tenho o número da XXL de qualquer maneira.” Daí, eventualmente fizemos a capa comigo, 50 e Dr. Dre quando assinamos o 50. E a guerra com The Source estava acontecendo.

Foi também quando eu estava começando a lutar contra o vício. As pessoas obviamente ainda não sabiam, mas eu estava começando a perceber por dentro que isso estava acontecendo, e eu sempre tentei manter isso em segredo e manter a postura o máximo que pude.

Consegui minimizar meu vício e escondê-lo por um tempo até ficar muito ruim. E também, naquela época, muita merda estava acontecendo com toda a treta do 50 com o Ja Rule. Começamos a brigar, o tempo todo, e estou fazendo todos essas músicas diss e tal. Daí, estou saindo do The Marshall Mathers LP e indo para o Encore quando meu vício começou a piorar. Eu estava tomando Vicodin, Valium e álcool. Eu meio que sumi um pouco do mapa e não expliquei porque desapareci. Eu lembro que as coisas começaram a ficar muito, muito ruins quando eu, 50 e G-Unit fizemos o 106 & Park da BET. Nós cantamos “You Don’t Know” no programa e depois demos uma entrevista. Foi ai quando as coisas começaram a desmoronar. Um dos apresentadores estava falando comigo e eu não conseguia entender uma palavra do que ela dizia. 50 teve que me cobrir e responder a todas as perguntas.

Depois comecei a usar Ambien junto com tudo. Eu demorava um pouco para me apresentar, o que você acharia que não faz sentido, mas Ambien é um apagador de memória. Então, se você não dormir com isso, você entra nesse estado de coma estranho. Eu vejo o que você está dizendo, e eu ouço o que você está dizendo, mas eu não compreendo. Se você assistir essa entrevista agora, você vai notar. Foi quando todos ao meu redor souberam: “Ele está fodido. Algo está errado com ele.”

Quando eu resumo em poucas palavras, percebo que todo o uso e dependência de drogas mais pesado durou apenas cerca de cinco anos da minha vida. É uma loucura quando penso no passado. Parecia muito tempo quando isso estava acontecendo, mas olhando para trás agora, não foi muito tempo para o meu problema explodir como aconteceu. Daí a coisa aconteceu com o Proof e meu vício estrapolou. Lembro que logo após a morte do Proof, eu estava em minha casa sozinho, e estava deitado na cama e não conseguia me mexer e apenas continuei olhando para o ventilador de teto. E continuei tomando mais comprimidos. Eu literalmente não consegui andar por dois dias quando isso aconteceu e eventualmente meu uso de drogas disparou. Eu tive 10 traficantes de drogas ao mesmo tempo que estou pegando minhas. Setenta e cinco a oitenta Valiums por noite, o que é muito. Eu não sei como eu ainda estou aqui. Eu estava me entorpecendo.

Lembro de alguns meses após a morte do Proof, eu estava prestes a usar o banheiro, eu só lembro ter caído. Depois só lembro acordando com uns tubos dentro de mim, e eu não conseguia falar. Eu não podia fazer nada. Eu não entendia onde eu estava e o que diabos tinha acontecido.

Quando vejo o meu catálogo, os três primeiros álbuns, estou definitivamente orgulhoso deles. Às vezes eu volto e os escuto se estou em um lugar onde preciso de alguma inspiração. Às vezes me ajuda a voltar a essas músicas. Mas então eu penso, cara, eu poderia ter feito esses vocais muito melhor. Eu poderia ter conectado esta palavra com esta palavra. Eu sempre faço esse tipo de merda.

O Encore tomou uma trajetória totalmente diferente porque o Encore foi durante o meu vício. Eu estava percebendo que estava ficando viciado nesses comprimidos. Eu estava saindo do The Eminem Show e da trilha sonora de 8 Mile e comecei a gravar e tinha cerca de sete ou oito músicas que estavam muito na linha do que eu faço. Mas acabamos lançando-os como um disco bônus porque as músicas vazaram. Se isso não tivesse vazado, Encore teria sido um álbum muito diferente. “We As Americans,” “Love You More,” muitas músicas acabaram no disco bônus porque vazaram e isso me decepcionou. Então, eu tive que começar de novo, o que parecia uma montanha que eu tinha que escalar. Você sobe metade da montanha e, de repente, é derrubado de volta. “We As Americans” ia começar o álbum, depois “Bully.” “Evil Deeds” estava lá. Se essas estivessem no Encore e as outras músicas que vazaram, para mim estaria pau a pau com The Eminem Show quanto ao seu calibre.

O problema foi que, no processo de gravação, conforme eu estava ficando mais viciado em drogas, eu estava com um humor mais engraçado. Então agora, eu vou eaço “Ass Like That,” “Big Weenie,” “Rain Man,” todas aquelas músicas bobas, que estou escrevendo em segundos naquele momento. Eu só estava escrevendo drogado e me sentindo bem com o que estava fazendo porque tenho 20 Vicodin em mim e isso é divertido de fazer, e estou me divertindo, então foda-se.

O álbum sai e foi definitivamente um alerta, um tapa na cara, um momento sóbrio, porque eu estava no embalo e então de alguma forma, eu saí desse embalo. Eu não sabia onde retomar as coisas e fiquei com raiva de muitas coisas, incluindo as músicas vazando porque isso mudou todo o cenário daquele álbum. Eu ainda tinha “Like Toy Soldiers” e alguns com os quais me sentia bem, mas sabia no fundo do meu coração que essa não é a mesma qualidade do The Eminem Show.

Tornou-se um passo em falso e lutei para superar o fato de que não dei o meu melhor. Meu melhor teria sido bom o suficiente se os vazamentos não tivessem acontecido. Mas eu lancei o que eu tinha naquele momento, e sinto que isso colocou uma marca no meu catálogo. O Encore rendeu uns números decentes, mas eu nunca me preocupei muito com números. Eu estava mais preocupado com o que as pessoas pensavam sobre o álbum. Críticos e fãs eram importantes para mim, e eles estavam sempre me questionando sobre esse projeto.

A coisa mais estranha e provavelmente a melhor que me aconteceu nos últimos 25 anos no sentido profissional foi conhecer todos os meus heróis. Todos os MCs que me inspiraram quando eu estava crescendo. Levei muito tempo para superar o encontro com o Dre. Quando ele entrou na sala da Interscope, eu fiquei tipo, Que porra é essa? Isso está realmente acontecendo? E então conhecer pessoas como Treach, Redman, Kool G Rap, Big Daddy Kane, Masta Ace, Rakim. Eu não estaria aqui sem todos eles. Foi daí que tirei toda a minha inspiração. Apenas estudando-os. Kool G Rap colocava 10 palavras em duas linhas e rimava, e elas se encaixavam. Eu estudei isso. Ele disse: “Uma carta para vocês, otários, todos e cada um de vocês, seus idiotas/Sua mina franze os lábios, por isso meti nela.” Ele apenas disse uma frase, mas cinco coisas rimaram ali. E até hoje, eu ainda fico muito esquisito e enlouqueço por dentro quando falo com o LL Cool J.

Eu escutei, estudei, mas também amei, amei a música. Rappers como D.O.C., Tupac Shakur e Biggie. Essas foram todas as minhas influências. Eu nunca estaria perto de onde estou hoje se não fosse por eles.

Meu papel no hip-hop de hoje é sempre tentar ser o melhor rapper. É isso. É assim que eu quero me sentir por dentro. É isso que eu quero sentir. E eu não posso fazer isso até ouvir o que J. Cole acabou de lançar. Que porra Kendrick acabou de lançar? E eu estou pensando, oh, esses caras não estão brincando. Não quero ser arrastado no meio disso tudo. Eu ainda quero que todos saibam quem diabos eu sou. Como eu disse, “Eles fazem rap para serem os melhores rappers.” Eu ouça uma parada deles, e eu fico tipo, cara, eu não sou o melhor rapper agora. Eu preciso me levantar, voltar à minha merda.

Meu processo de escrita é diferente agora do que era antigamente. Costumava ser, me dê qualquer pedaço de papel que esteja por perto e eu vou escrever algumas ideias. Às vezes eu gostaria de poder ter essa liberdade de volta. No início da minha carreira, eu tinha toda essa tela para pintar. “Eu não fiz uma música sobre isso, isso, isso. Eu posso fazer uma música sobre isso.” Quanto mais você pinta nessa tela, de repente, você faz uma música sobre cada coisa que você pode imaginar. Então, eu começo a pensar. Se eu tivesse que escolher entre ser o melhor rapper ou fazer os melhores álbuns, eu preferiria ser o melhor rapper. É assim que eu faço rap, para ser o melhor rapper. Obviamente, tudo isso é subjetivo, e todo mundo tem seus rappers favoritos, mas na minha cabeça, eu prefiro fazer isso do que apenas fazer boas músicas.

Neste momento, muitas das grandes conquistas que poderiam vir em sua carreira já aconteceram para mim, então eu não foco demais em números e em estar nas paradas. Eu me concentro muito em pessoas como Kendrick Lamar, Joyner Lucas, J. Cole e Big Sean, e observá-los e como diabos eles estão fazendo suas paradas. Porque eles também estão focados em serem os melhores rappers.

Eu quero fazer coisas que ninguém a partir de agora pode superar. Rimar a um nível que ninguém mais possa chegar. E, novamente, é subjetivo, e todo rapper, principalmente rappers no rap competitivo, quer ser o melhor rapper. Então, eu procuro a geração mais jovem para me estimular. Eu não tenho que fazer álbuns. Eu não tenho que fazer nada neste momento. É sobre querer, e isso nunca mudou para mim, não importa em que nível a fama chegou. Eu ainda amo fazer rap. Sempre foi o mais importante para mim. Ainda me divirto escrevendo. Eu me divirto assistindo os rappers que acabei de mencionar, e dizendo, OK, deixe-me ver se posso fazer algo que por dentro acho que posso superar isso. E toda vez que os melhores rappers lançam um álbum, isso muda a paisagem da cena. Pelo menos para mim, e eu fico tipo, eu preciso ser capaz de fazer rap assim. Porque se eu não fizer isso, alguém vai chegar, provavelmente nos próximos dois anos, e me deixar para trás.

Eu não poderia sentar aqui e dizer: “Cara, eu quero ser o melhor rapper que já existiu e sempre será, mas eu não escuto a merda de ninguém e acho que sou intocável.” Não, porque no minuto em que você dorme, alguém vem para arrancar sua cabeça. Isso é o que eu sempre amei no rap. Está sempre evoluindo e, para ter sucesso, você precisa estar constantemente ciente disso e acompanhá-lo.

Leia a matéria de capa do Eminem na edição de 25 anos da revista XXL, nas bancas no final de setembro de 2022. Confira entrevistas adicionais na revista com Yung Miami, Bobby Shmurda, JID, GloRilla, Yvngxchris, Sleazyworld Go, Styles P, Jim Jones , Symba, Reason, a cantora Jessie Reyez, o ator Trevante Rhodes e a executiva musical Katina Bynum. A edição também inclui um mergulho profundo na conexão de longa data dos rappers com o anime, uma visão na batalha dos sistemas judiciais dos EUA contra as letras de rap, o interesse renovado que os supervisores de música têm em colocar o hip-hop dos anos 90 na elogiada série de TV de hoje e as 254 capas anteriores na história da XXL.

Veja fotos do Eminem da capa da edição de 25 anos da XXL.

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