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Eminem: ‘Eu me odiava’ – The New York Post (11 de setembro, 2010)

Eminem conta ao The Post como os comprimidos tomaram conta de sua vida e música

POR DAN AQUILANTE
Postado: 23:17, 11 de setembro de 2010

Se você acha que a jornada do Eminem como um menino pobre de um lar problemático até uma estrela do rap criou um enredo quase perfeito de Horatio Alger para o filme “8 Mile”, o próximo capítulo para o Slim Shady é uma montanha russa ainda mais pungente. É um conto pronto para Hollywood com um final feliz embutido.

Meio “King Lear” meio “Scarface”, o enredo é contado em seu novo álbum “Recovery”, o homem nascido Marshall Mathers contou aos ouvintes que seus últimos dois álbuns – “Encore” e “Relapse” – não foram os melhores de seu trabalho. Ele menciona sua overdose que quase o levou à morte, reabilitação e as drogas que o colocou lá, como suas habilidades como MC sofreram, e como o seu amigo de infância e companheiro rapper de Detroit Proof foi assassinado em 2006. E é claro, como o seu casamento com a Kim acabou pela segunda vez.

Eminem, 37 (anos), está agora curtindo uma grande volta conseqüência do “Recovery”. Ele recebeu oito indicações – incluindo Vídeo clipe do ano com o emocionante “Not Afraid” – hoje à noite no MTV Video Music Awards. Amanhã e terça-feira ele e o Jay-Z irão se apresentar no Yankee Stadium em dois shows esgotados.

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Essa volta começou quando ele finalmente largou as drogas no começo de 2008. Conversando com o The Post em uma entrevista exclusiva de seu estúdio fora de Detroit, Eminem revela sobre o domínio que as drogas tinham sobre ele e os passos que ele tomou para revitalizar a sua carreira.

Você se lembra quando tomou o seu primeiro comprimido?

Eu tomei o meu primeiro Vicodin quando eu tinha 24 ou 25. Eu gostava de qualquer coisa com codeína. Foi fácil no começo. Eu não tinha dinheiro para me envolver nas drogas. Eu usava quando alguém oferecia pra mim. Quando minha carreira deslanchou e o público ficou maior e a vida ficou mais corrida, eu busquei essa merda cada vez mais. Eu usava isso como um apoio para acalmar os meus nervos. Principalmente os soníferos.

Agora quando você ouve álbuns como o “Encore” e “Relapse”, você consegue ouvir o efeito que as drogas tinham em você?

Tem um reflexo das drogas na música. Eu consigo ouvir músicas agora e ouvir o quanto eu estava drogado. Eu também consigo ouvir as músicas em que eu não estava drogado de maneira alguma. Mas assim que os comprimidos progrediam e progrediam, bem na época do álbum “Encore”, eu acho que o uso das drogas era óbvio.

Qual impacto que os comprimidos acabaram tendo em sua música?

Eles me sufocaram – eles pararam o meu cérebro. Eu não sabia se estava fritando células do cérebro ou o que, mas eu não conseguia pensar. As drogas também me deixavam com preguiça.

Como que elas te deixavam com preguiça?

Eu fiquei preguiçoso com tudo. Eu ficaria chapado e diria, “Foda-se escrever rimas. Eu quero sentar, ver um pouco de TV e comer nachos – e ver mais TV”.

Algum de seus amigos falou pra você se levantar da sua bunda?

Proof [amigo de infância do Eminem que morreu num tiroteio em 2006] me falava pra sair dessa merda. Ele perguntava o que se passava na minha cabeça. Mas por mais próximo que ele fosse, não importava. Eu não estava pronto para ouvir. Não teve nenhuma pessoa que conseguiu me falar que eu tinha um problema.

Você ficou tão decepcionado com o “Relapse” igual os seus fãs?

Eu não fiquei decepcionado quando eu lancei. Quando eu senti isso foi depois, quando eu estava reavaliando o meu trabalho – tentando descobrir por que minhas músicas não soavam como costumavam soar. Quanto mais eu me afastava do “Relapse”, eu fui capaz de ouvir os problemas com todos os sotaques que eu estava usando para interpretar personagens, e como os assassinatos em série não estavam dando certo. A piada tinha acabado – eu levei isso para o chão.

Quais eram os problemas?

Houve definitivamente um lapso na honestidade pessoal no “Relpase”, e há honestidade no “Recovery”.

Saiu alguma coisa boa de “Relapse”?

Foi bom porque foi um passo necessário para eu tomar ou eu não teria sido capaz de criar [“Recovery”], então eu sou grato nesse sentido. Hey, não me entenda mal, eu não acho que “Relapse” foi um álbum terrível. Eu só acho que o novo material é bem melhor.

Sua música está melhor agora porque você largou o seu vício nos comprimidos?

Quando eu fiquei limpo e sóbrio, é como se eu fosse um moleque de novo. Tudo era novo. Não quero que soe brega, mas eu nasci de novo. Eu tive que aprender as minhas habilidades de escrever. Eu estava reaprendendo como rimar. Eu não sabia se as minhas habilidades de MC estavam intactas. Mas foi tudo muito divertido e de repente comecei a me sentir feliz. Eu não me sentia feliz há muito tempo.

Teve algum momento que você pensou que havia chegado ao fundo do posso?

Olhando pra trás agora, eu percebo que o meu fundo do posso foi minha overdose [em dezembro de 2007]. Mas quando fiquei mais fundo no buraco foi quando eu percebi que não conseguia fazer mais porra nenhuma. Nenhuma droga, comprimido ou qualquer estimulante de humor – nem mesmo NyQuil. Eu não conseguia usar nada disso porque eu gostava demais.

Então levou uma overdose para que você parasse de usar drogas?

Não. Depois da minha overdose – menos de um mês depois – eu estava tomando comprimidos novamente. Eu dizia a mim mesmo, “Eu posso tomar Vicodin de novo – só vou tomar um pouco. Ou eu tomo um Valium e não tomo nenhum Vicodin”.

Não funciona assim. Em algumas semanas, eu aumentei para a quantidade que eu estava usando antes da minha overdose. Eu me caguei inteiro. Eu percebi, “Ow, eu não consigo fazer nada com moderação. Eu não sei como”.

E depois o que aconteceu?

Eu finalmente admiti ter um problema e busquei ajuda.

Você frequentou a reabilitação com outros viciados? Ou você obteve ajuda em particular?

Eu fiz em casa. Eu fui aos meus amigos e disse que precisava realmente de ajuda, mas eu não podia voltar à reabilitação [como eu fiz em 2005]. Não estou metendo pau no sistema de reabilitação, mas não funcionou para mim. Eu não conseguia me abrir – eu realmente não pensava que precisava estar lá.

O que tinha de errado com a reabilitação?

Era muita loucura. Tudo deveria ser anônimo, mas ser desconhecido não é possível para mim – fala sério! Quando eu entrei na reabilitação pela primeira vez, eu me senti como um personagem de desenho que entrou num ambiente com pessoas reais e todos os olhos estavam em mim. Foi muito pra mim.

Eu ainda estava na fase onde eu pensava que não tinha nenhum problema. Eu falava tipo, “Talvez eu tenha problema com soníferos, mas tudo bem usar Vicodin e Tylenol 3 pra ter um pouco de recreação”. Eu estava tratando comigo mesmo e eu estava em negação. Eu me odiava por ser tão fraco. Eu disse que eu poderia controlar isso, mas no fundo eu não podia. Eu tive um problema, dizendo: “Meu nome é Marshall e eu sou um viciado.”

Lutar contra o vício foi uma experiência de humildade?

Eu acho que nunca me imaginei sendo o Super-homem. Mas tinham pessoas que pensavam assim a respeito de mim, e talvez eu acreditasse neles um pouco. Com as drogas, eu sei que decepcionaria minhas filhas. Eu pensava, “E se elas olharem para mim como se eu fosse o Superhomem e tudo que eu fizer as decepcionarem?”. Eu me senti fraco e eu sabia que não era pra ser fraco.

Pessoas dizem que “Recovery” mostra força e maturidade incomum. Você se sente assim?

Ah sim. Eu amadureci bastante nos últimos anos. Isso não significa que eu não possa agir como um molecão. Estou mudado por ter ficado limpo e conquistado esses demônios – pelo menos até agora.

Teve alguma recompensa por ter passado por tudo isso?

Isso é difícil de identificar. Eu tive que aprender a escrever e rimar novamente, e eu tive que fazer isso sóbrio e 100 por cento limpo. Isso não foi bom no começo.

Como assim você teve que aprender a rimar novamente?

Eu digo isso no sentido literal. Eu realmente tive que aprender a falar minhas letras de novo – como montar as frases, criar um flow, como usar a força para que soasse como eu quisesse. Rimando não era como andar de bicicleta. Foi [tanto] físico como mental. Eu estava reaprendendo habilidades motoras básicas. Eu não conseguia controlar os tremores das minhas mãos. Eu entrava na cabine [de gravação] e tentava rimar, e não saia nada inteligente, nada era natural e não estava falando da forma certa.

Quando que você sentiu que estava em forma novamente como um rapper?

Foi quatro ou cinco meses depois que eu havia ficado limpo quando eu comecei a ter um vislumbre das minhas habilidades de escrever de volta. Eu não me lembro em qual música eu estava trabalhando especificamente, mas eu me lembro de ter conseguido colocar o sentimento de volta na música. Eu percebi que queria fazer isso novamente.

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